Quando você se dispõe a falar ou interpretar algo que diz respeito ao cotidiano da vida das pessoas, aí vem alguém e diz: lá vem discurso político , meu Deus!
Mas digo que diante do triste espetáculo de nossa política, passei a me interrogar sobre o valor das palavras na política. Lendo e somente lendo para aprender. Com os gregos, aprendi que a palavra é primordial na democracia que é antes de tudo, a resolução de conflitos por meio da discussão do povo reunido em assembléia.
A palavra, o discurso, em vez de armas e de guerra. Por isso, os gregos ensinavam a retórica para desenvolver no cidadão habilidades de convencer pela palavra. Nos dias de hoje aprendi outra lição: que a palavra é uma arma a serviço do poder. A palavra passa a ser vista, então, como falsa consciência, mentira ou ideologia.
Por mentira, entendo aqui o uso da palavra com a finalidade de enganar, de fraudar, de falsidade e isso de mentira consciente. Na democracia representativa parlamentar, as oportunidades para transformar a palavra ou mentira são muitas. O ato de candidatar-se apresenta a primeira oportunidade: os motivos da candidatura podem ser inconfessáveis e a mentira é um recurso para ocultá-los.
Da mesma maneira pode agir partido. Sabe-se que um partido político é um agrupamento voluntário de indivíduos em busca do poder para alcançar determinados objetivos , que podem ir dos mais nobres aos mais perversos.
Mas, minha gente, o que dizer então da campanha eleitoral quando os candidatos e os partidos precisam convencer o eleitor que representa uma boa opção de governo? Daí o convencimento pela palavra tornar-se não raramente convencimento pela mentira. A mentira como meio de chegar ao poder, e em seguida , de administrá-la em seu beneficio próprio ou de seu grupo. Como ainda as campanhas são longas e custosas, outra forma de convencimento são usadas e o ideal democrático grego cede lugar a fraude, o demagogo deixa de ser aquele que tem habilidade no uso honesto da palavra e passa a ser aquele que mente melhor e usa de todos os meios para impor o seu nome, e olha que tem muita gente com esse proceder.
Com o passar das eleições o discurso não parece ser suficiente para o sucesso de seus objetivos. A força da palavra – mesmo mentirosa – se acrescenta a força do poder econômico, o que aumenta a possibilidade de enganar, durante e após as eleições para negar os meios que o individuo e o partido usaram para vencer. Mente-se ainda no exercício da governança no intuito de esconder os motivos das decisões tomadas. E como fica o povo investido de eleitor diante desse quadro ? Fica bestializado porque fizeram de bobo, seja porque “ não viu, não ouviu, não falou”, seja porque enxergou tudo mais nada pode fazer senão bravejar, indignar-se e torturar sua alma de eleitor. Como se não bastasse, o eleitor ainda é vitimado e agredido porque se diz que ele não sabe votar. Como não sabe? A cada eleição nós notamos que existe uma renovação. O problema é que as vezes os “ novatos “ são tão mentirosos quanto os anteriores. Votar melhor ? Sim. Mais em quem, se não há melhores candidatos e partidos? Como parar a engrenagem da mentira e falsidade para voltar ao convencimento pela palavra?
Talvez a mentira seja parte intrínseca da vida política e não seja possível eliminá-la do jogo do poder, mas certamente não na dimensão em que ela existe atualmente. Encerro questionando: você se sente enganado pelos políticos?
Armando Cerci Junior
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