Pergunte a quem passou por lá, se lá é lugar de gente. Se agora liberto e em sã consciência, voltaria para lá. Pergunte a ele sobre os dias intermináveis, a noite que não passa e o sol que teime em não brilhar. Pergunte sobre a cama e o colchão que dormia, a comida que lhe serviram, o calor insuportável e o barulho persistente do velho ventilador que não resolvia nada.
Questione o réu sobre quantas cuecas lavou, quantas vezes lavou o banheiro usado por todos e as roupas dos líderes e daqueles que mandam na cadeia. Quanto sexo praticou, mesmo sem pedir, mesmo sem querer. Peça para lhe contar sobre o cheiro de uma cela que impregna o ar, a roupa que veste e a pele do seu corpo. Pergunte quantas vezes na caminhada teve que assumir o crime que não praticou, quantas vezes mesmo não querendo teve que fugir. Mesmo não querendo agredir, bateu; não querendo se rebelar, tornou-se a pedido da liderança, violento e ameaçador.
Deixe que ele lhe conte sobre as horas que antecedem a primeira visita dos pais e familiares. Veja se é possível medir a sensação daqueles que ficam olhando com olhar tristonho para a porta de entrada do presídio, até que se feche e constatar que naquele dia, eles não vieram, ou quem sabe não virão nunca mais.
E o que dizer daqueles que estando presos não têm ninguém por eles. Nem familiares, nem defensores, simplesmente, ninguém, apenas Deus, se a fé ainda resistir e continuar pulsando em sua alma. Pergunte ao ex-presidiário o que disse sua mãe quando foi visitá-lo pela primeira vez, o que leu em seus olhos e sua face, qual a reação no íntimo do coração ao ver o filho amado naquele lugar e naquela situação.
Peça que ela diga a humilhação que passou, independente da idade, ao ter todos os orifícios do corpo rastreados por um detector de metal e ficar nua em frente a uma ou mais desconhecidas. Estimule o réu falar do arrependimento de ter usado aquela droga, ter deixado o lado violento falar mais que a razão, ter cometido aquele crime e levado a sua vida e sua família à destruição e à vergonha.
É importante que o ex-preso lhe diga sobre o misto de alegria e preocupação ao receber o alvará de soltura sobre deixar o presídio e não ter para onde ir. O quanto dói ouvir um sonoro “não” daqueles que diziam serem amigos. Sentir na alma a desconfiança de todos, a repulsa da namorada que lhe fez juras de amor eterno e que agora não é mais dele. E o que pensar sobre aquela ideia que lateja em sua cabeça de voltar ao crime já que o mundo não o quer mais. E de repente, a história se repete e lá está o ex-preso de volta para o mesmo lugar. Lugar em que nunca deveria ter pisado a planta dos seus pés. Portanto, meu irmão, que Deus o ajude a nunca passar por lá.
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