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Colunistas de Cruzeiro do Oeste e Região

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O CORPO DA MULHER - por Percival Pretti


Imagino que a coisa mais difícil é ser mulher. Não bastassem as surpresas que a fisiologia lhes impõe, a sociedade criou regras para cercear-lhe a liberdade de ir e vir e padrões rígidos de moralidade que não se aplicam aos homens. De todas as imposições, a mais odiosa é a apropriação indébita do corpo feminino. Ainda hoje, em mais de 20 países, meninas na mais tenra idade tem as genitais mutiladas, através de cirurgias cruentas, sem anestésicos, sem higiene alguma e o mundo assiste em silêncio em nome do respeito às tradições culturais.

Nós não chegamos a isso, mas repreendemos severamente quando uma menina de três anos leva a mão ao sexo ou senta com as pernas abertas. Nos homens, para alivio do pai, quando o menino chega à puberdade e com o cérebro inundado por testosterona, jamais alguém ousa sugerir ao jovem que deve levar em consideração o amor, os sentimentos. Passa ser normal o sexo casual para os meninos, mas ninguém se importa se isso manchará a reputação da menina. A indústria e os meios de comunicação, via publicidade, sexualizam com roupas provocantes, levando a ser regra entre as meninas, tornando uma obrigação usá-las. Desde a adolescência são levadas a cultivar o padrão de beleza escorado na magreza doentia das top models, sem considerar a genética e estrutura óssea, mesmo que isso represente um risco para o corpo e para a saúde.

Passam a implicar com pequeno acúmulo de gordura, rugas insignificantes e com celulites só visíveis muitas vezes em posições acrobáticas. Antigamente, demonstrar interesse por uma mulher era exaltar a sua beleza. Hoje em dia, ela tem que ser magra. Nos homens é diferente, vinte quilos a mais não significam nada, mesmo que isso represente riscos a saúde. O sujeito sai do banho enrolado em uma toalha e em frente ao espelho bate na pança avantajada e diz: “Tô simpático, tô bonitão”. Mas é na gravidez que fica demonstrada a superioridade do organismo feminino. Produzem apenas um óvulo, enquanto os homens têm que ejacular 300 milhões de espermatozoides para que seja escolhido o mais apto. Daí por diante, constroem uma criança em média com três quilos e fazem isso sem a participação do pai.

Nosso papel é tão desprezível que precisamos fazer exame de DNA para provar a paternidade. Por ser maioria, são os homens que aprovam as leis - que aliás demoram a ter validade - sobre o aborto, sobre as agressões de parceiros, como se fosse mera obrigação. Passam a vida espremida em trajes incômodos, equilibram-se em saltos cada vez mais altos. Em nome do apelo social muitas morrem fazendo cirurgias corretivas das mais variadas e lipoaspiração. Preferem partir deste mundo prematuramente em atos assim, a envelhecer naturalmente. Se deixam os cabelos sem pintar são taxadas de velhas; se pintam de preto, ouvem das amigas que parecem mais idosas; se tingem de loiro, são xingadas de exibidas; se vestem roupas discretas, são antiquadas; se acompanham a moda mais jovem, são ridículas e sem noção.

As leitoras que me perdoem, mas na próxima encarnação quero nascer homem outra vez.


Texto baseado em uma crônica do Dr. Dráuzio Varella

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