De repente, você sente falta de alguém em sua vida, alguém que já não está mais com você. Em momentos difíceis, você acaba dando valor a esse alguém. Falo dos pais, que por mais que Deus prolongue a permanência deles nesta terra, inevitavelmente, em momentos especiais, você reconhecera que eles partiram cedo demais. Aconteceu comigo e passo a relatar os meus sentimentos em relação ao meu querido pai.
Recentemente, fui ao cemitério. O dia de finados estava se aproximando, fui lavar o túmulo de meu pai e o de minha mãe. Aproveitei para levar flores para eles. Lá, pude contemplar a frondosa arvore que meu pai plantou para fazer sombra no túmulo, que a principio, era apenas de minha mãe, levada primeiro ao seio do pai celestial. Sentado sobre a pedra fria de mármore, pus-me a pensar e lembrei-me de uma crônica que escrevi, logo após a morte daquele que me deu a vida. Assim escrevi:
“De repente, estou órfão. O sentimento de perda e lacuna no coração é enorme e inexplicável. Só mesmo os que perdem parentes próximos, podem avaliar.
Relutei em escrever esse texto, mas antes mesmo de ser um desabafo, gostaria que servisse de alerta para aqueles que tem pais vivos e não usufruem na plenitude suas companhias, conselhos e carinhos. Por vezes, chegamos a pensar que eles jamais faltarão e, por isso, uma palavra áspera, a falta de atenção e a ausência de amor, acabam por tornar-se rotina no relacionamento entre pais e filhos. Imaginamos que a morte é como nas novelas e filmes, em que o moribundo chama a família ao lado do leito de dor e que há tempo para reconciliação, pedidos de perdão mútuos, e, ao final, o parente parte sereno como um pássaro.
Infelizmente, nem sempre e assim. A morte é inimiga da hora, vem sem avisar, rasga nosso interior e tira de nos o que há de mais sagrado, deixando um vazio enorme que jamais será preenchido.
Nos últimos tempos, fiquei pensando sobre tudo aquilo que meu pai representou para mim, para minha família e para legião de amigos que conviveu. Homem que se orgulhava de nunca ter passado um cheque sem fundos. Gabava-se de nunca ter sido infiel a sua querida companheira. Homem de personalidade forte, às vezes, até intransigente, mas que nos ensinou com seus exemplos, o verdadeiro sentido da vida, os problemas do mundo, a beleza e o poder de Deus. Com isso, fez-nos trilhar o caminho da salvação.
Nos quarenta anos como evangélico, orou, incessantemente, todas as noites, pela família, pelos amigos, por tudo que julgava importante, por quilo que acontecia ao seu redor e precisava da ação divina. Leu e releu sua velha e surrada Bíblia ao ponto de ficar difícil entender as palavras lá escritas. Meu pai, verdadeiramente, foi um exemplo de cidadão, desbravador.
Chegou a Cruzeiro do Oeste, em 1960 e nunca mais saiu, pois amava esta terra. Fez um grande contingente de amigos e deixou exemplos fantásticos de amor fraternal e amizade. Sei que vou encontra-lo um dia, há um lugar preparado para nós. Lá, voltaremos a ser uma grande família, com minha mãe e meus irmãos.
Após rememorar essa crônica que escrevi, fitei o rosto envelhecido do meu pai, cansado pelo tempo e disse: “Vá, meu pai, gozar das delicias que estão descritas na Bíblia que com certeza, você já a encontrou. Vá encontrar sua fiel companheira de 51 anos de lutas e alegrias. Vá, meu amigo especial e aguarde que nos também um dia lá, chegaremos”
Sei que seu espírito esta com Deus. Seu corpo descansa à sombra daquela frondosa árvore que plantou para cobrir o túmulo de minha mãe. Mal sabia eu e ele que um dia as suas sombras serviriam para cobrir o seu corpo também. Poupei meus pais de sofrerem comigo as minhas aflições por tudo que a vida me tem reservado, mas também não pude estar com eles em minhas vitórias. Sei e não posso negar: teria sido muito mais fácil se eles estivessem comigo. Saibam todos: não há nada mais seguro e gostoso do que o colo e o carinho de nossos pais.
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