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Colunistas de Cruzeiro do Oeste e Região

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Entrevista com Kaio Miotti Ribeiro - Jornalista e Cantor



Portal-TG: Na sua opinião por que a música exerce um papel fundamental na vida das pessoas, independente da idade?

Kaio – Música é a poesia do som, é arte. Gosto de quando o poeta Paulo Leminski fala que “poesia não tem porque nem para quê, é in-útil.” O poeta estava falando que a poesia não segue as leis de utilidade dessa nossa sociedade capitalista, refém do mercado, poesia não dá lucro. Nesse sentido, arte não serve para nada. Então, música também não. É óbvio que cada expressão artística ou gênero artístico, é carregado de símbolos de seu tempo e de seu autor, o que nos dá pistas sobre uma sociedade específica, o que permite a pesquisa e teorização nas academias. O que permite também, a reflexão acerca de nosso cotidiano, de nossa visão de mundo. Mas isso NÃO SERVE PRA NADA NUMA SOCIEDADE EM QUE TUDO TEM QUE SER ÚTIL, sacou a ironia? Ah, e (poesia-arte) música dá um barato, como diria o Sr. Leminski, igualzinho o júbilo do gol, o estado extraordinário alcançado com substâncias alucinógenas, o orgasmo, a amizade, enfim...!


Portal-TG: Há pessoas que escutam música, outras gostam do barulho, outras apreciam o ritmo. Porém, sei que há outras que APRECIAM a música. Em que categoria você se enquadra? Por quê?

Kaio – Música é um conjunto de estrutura harmônica, melodia e ritmo. Acho que é válido sensibilizar o ouvido pra alcançar uma apreciação mais holística da música, indo dos elementos característicos já citados até o contexto em que ela foi gravada, o álbum, os músicos que tocaram ali, o momento político....quem gosta de barulho ou busca fragmentar uma música e digerir apenas uma parte, acho que está em busca de outra coisa.


Portal-TG: Da década de 30 , 40, até a década de 80 , um ritmo musical durava 10 ou mais anos. Porém, estudos mostram que a partir da década de 90, isso se modificou. Foi do período do surgimento do É O TCHAM para frente. Pelo seu conhecimento musical, a que se deve essa proliferação de estilos?

Kaio –Essa coisa de proliferação de estilos é complexa a meu ver. Não sou um historiador da música, no entanto, quando você se refere ao “É o Tchan”, por exemplo, o que houve foi uma proliferação das formas mercadológicas de música; a receita desse tipo de som é básica: ENTRETENIMENTO. Não há profundidade, ou preocupação com a elaboração de uma expressão artística que aguce a sensibilidade, que dê um barato maior, que cause reflexão. É moda, é pra vender, infinitas variações da mesma coisa. E quando a música toca numa rádio comercial é por quê? Porque teve “jabá” (foi paga pra tocar). Isso é um tipo de deseducação, como os jornais, na tv fazem. O interessante é que as pessoas acabam gostando das coisas sem se perguntar porque, apenas recebem passivamente o que os meios de comunicação ditam como sendo bons ou ruins.

Mas, sobre o surgimento de novos estilos, dá pra pensar assim: veja que no Brasil, uma das últimas expressões musicais genuínas foi o MangueBeat: a turma do Chico Science, Fred 04 e outros lá de Recife que misturaram elementos do rock com rap, repente, maracatu e outras culturas populares. O próprio rock vem do blues, este que veio dos cantos de trabalho dos escravos norte-americanos nas plantações de algodão. Um gênero vai carregando inúmeros elementos do outro e não se extingue com o surgimento de um novo. Podemos dar um exemplo, assim também: o romance é um gênero literário que pode aglutinar todos os outros, como poema, diálogos corriqueiros, uma carta, um conto, etc... Não há gêneros literários senão para fins didáticos. Todo gênero tem um pouquinho do outro.

Outro ponto é que as pessoas foram tendo cada vez mais acesso a estilos musicais de diferentes partes do mundo (decorrente de tecnologias como o rádio, o vinil, a internet). Comprar um vinil, depois um cd, e hoje baixar um mp3 foi ficando cada vez mais fácil.

Enfim, acho que essa pergunta dá é pano pra manga, e poderíamos um dia pesquisar e discutir apenas isso, porque hoje não deu pra esgotar o assunto.


Portal-TG: Quais cantores nacionais aprecia?

Kaio – Dos nacionais vai a listinha: Cazuza e Barão Vermelho, Bebeco Garcia, Bêbados Habilidosos, Saco de Ratos, Zé Geraldo, Raul Seixas, Cartola, Adoniran Barbosa, Elis Regina, Gal Costa, Jorge Mautner, Edvaldo Santana, Chico Science e Nação Zumbi, Zé Pretim, Mutantes, Di Melo, Jorge Ben Jor, Celso Blues Boy, Chico César, Siba, Tom Zé, Rita Ribeiro, Racionais MC’s, Eduardo Mc (ex-facção central), e mais um tanto.... ouço música TODO dia e os preferidos são muitos.


Portal-TG: Quais cantores internacionais ou bandas aprecia?

Kaio – Primeiro muitos do blues norte-americano, como Robert Johnson, Leadbelly,Muddy Waters, John Lee Hocker, Etta James, Howling Wolf, Nina Simone, Buddy Guy, B. B. King, por aí... e então FelaKuti, Violeta Parra, MercedezSosa, Fito Paez, Benjamin Clementine, Ella Fitzgerald, Buena Vista Social Club, Black Crowes, Eric Clapton, Bob Marley, Led Zeppelin, Allman Brothers Band, Bob Dylan, SalifKeita...


Portal-TG: Quase todo adolescente sonhou um dia ter uma banda ou ser cantor. Isso aconteceu com você?

Kaio – Sim, aconteceu, e acontece desde quando peguei no violão acompanhado de meu avô, aos 12... nunca tive banda, geralmente faço Jam Sessions, que é chamar uns músicos e tocar de improviso alguns temas combinados antes. Aliás, fiz muito lançamento de disco no sul do Paraná, dessa forma. Quem quiser conferir as músicas que estão e que foram gravadas graças à parceria com o guitarrista Fábio Brum, é só acessar www.reverbnation.com/kaiomiotti. Download grátis.


Portal-TG: Alguém da mídia afirmou que todo mundo gosta de funk. Essa afirmativa é procedente a seu ver? Por quê?

Kaio – Bem, acho que houve um crescente de fãs ou simpatizantes por esse tipo de som. Agora, de novo, é difícil afirmar se é porque o funk tem um grande investimento por trás ou se é realmente reflexo de uma cultura. Pode também ser os dois. Acho que é algo a se investigar, a se pensar: o que o funk traz? Por que é contagiante? Onde é tocado? Quem gosta de funk faz o quê e pensa como? Sei, por ora, que o funk se modificou muito desde sua criação nas favelas, e, quanto a ser uma expressão originária em uma determinada classe social, isso não resta dúvidas. É certo que não penso muito no funk porque não ouço.


Portal-TG: Muitas pessoas dizem: “As músicas do meu tempo não eram assim. Isso não é música , é uma barulheira”. O que você tem a dizer sobre as músicas que a galera curte hoje?

Kaio – Hoje tá eclético e favorável à ampliação do horizonte musical. Como disse anteriormente, o acesso a bandas, cantores, músicos se pontencializou com a internet. É só ter vontade de procurar, e é justamente esse sentimento de curiosidade que tem que ganhar força. Ora, não pra ficar sustentando preconceito, ouvindo mais do mesmo, falando que somente no seu tempo haviam boas músicas, não. Tem que experimentar, conhecer, degustar. Preconceito não cabe em lugar nenhum!


Portal-TG: Um show a que assistiu e gostou muito e outro que gostaria de assistir.

Kaio – Nunca assisti a um show de uma grande banda ou cantor. Sempre frequentei bares undergrounds, com músicos pouco conhecidos tocando. E é isso que tem me agradado.


Portal-TG: Em suma música é.

Kaio – Música, pra mim, é como diz o cancioneiro blues: “cantar a dor enquanto dá aquele sorrisinho de canto de boca.”



Kaio Miotti Ribeiro: Formado em jornalismo, UNICENTRO - Guarapuava-PR, 2013.



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