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Colunistas de Cruzeiro do Oeste e Região

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A sabedoria de velório - por Percival Pretti - Vereador / Cronista



Dia desse eu fui a um velório de um amigo em uma cidade vizinha e como não conhecia a maioria das pessoas que lá estavam, me sentei em um canto e comecei a pensar o que podemos aprender com os velórios.

Na Bíblia está escrito que é melhor ir a um velório do que em a uma festa, pois no velório há mais sinceridade. Voltando ao caso. Chegou a mim o irmão do morto e ao cumprimentá-lo e dizer as palavras de praxe, ele me falou: “Ele vai estar lá em cima olhando pra ti”. De repente, levei um susto e pensei: "Como assim, olhando para mim?" Se isso for verdade, lamento a sorte minha e do meu amigo morto. A minha, porque não voltarei a estar à vontade, sabendo que o Carlos seguirá todos os meus passos; a dele, porque a minha vida é muito desinteressante.

Fiquei intrigado pensando que tipo de entretenimento tem eles no céu para que Carlos prefira passar a eternidade a olhar para mim? Será que lá Chaplin não atua? Shakespeare não declama? Por que será que Carlos desejaria ver-me, por exemplo, a escovar meus dentes? Na verdade, muitas vezes compareço a velório e tento sair da frase, “meus pêsames”, mas nada se encaixa convenientemente. É comum você chegar e dizer aos familiares “Boa noite. Muita força nesta hora” ou “talvez tenha sido melhor assim. Ele não sofreu” ou ainda “Esta é a prova que não somos nada”. E se o morto for bem de idade “ Ele cumpriu bem a missão dele. Deus o levou para si”. Tem duas frases que normalmente eu não uso em velório. “Lamento muito isso ter ocorrido”. Dá-se a impressão que eu tive culpa no enfarte do morto. Ou aquela: “ Os meus sentimentos”. É uma frase sem verbo e tenho a impressão de que a viúva fique me esperando completar a frase, quando na verdade estou doido para sair de perto, pois não sei mais o que falar.


OBS.: Baseado em uma crônica de Ricardo Araújo.


Percival Pretti

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