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Colunistas de Cruzeiro do Oeste e Região

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Sobre o excesso de informação e seus desdobramentos: como ficamos nesse processo? - por Yara Luna



Pode-se afirmar que hoje, a sociedade se encontra inserida na atual plataforma cultural chamada Cibercultura que, além de estar relacionada as novas tecnologias, também está intrinsecamente ligada às práticas sociais contemporâneas.

De acordo com André Lemos a Cibercultura possui três leis que a regem:

1) A liberação do polo da emissão, 2) O princípio de conexão em rede e 3) A Reconfiguração de formatos midiáticos e práticas sociais.

A primeira lei está ligada à liberação do emissor, dentro da estrutura de comunicação tradicional (emissor- canal- receptor), onde “qualquer um” pode ser emissor de sua mensagem; diferente de antes quando apenas um produtor de comunicação (diretor, cineasta, autor, etc) podia criar sua mensagem e disseminar para determinado público. Esta lei apresenta a liberdade de qualquer pessoa criar seu conteúdo e o publicar onde quiser (o youtube é um exemplo de meio em que qualquer pessoa pode fazer um vídeo e publicar).

Já a segunda lei se relaciona à rede (internet) onde esta liberação do novo emissor pode ser colocada em prática. E a terceira lei descreve a reconfiguração dos conteúdos dos meios de comunicação (principalmente dos tradicionais como jornal, rádio e TV), dando lugar a novas criações (os conteúdos do facebook são um bom exemplo de reconfiguração de outros meios, pois em suas mensagens compartilhadas, se encontram misturas de conteúdos de TV, cinema, jornal, etc).

Dentro deste conjunto, leva-se em consideração, principalmente, a terceira lei (reconfiguração das mensagens), pois pode ser vista como “carro-chefe” das práticas contemporâneas, envolvendo os novos formatos tecnológicos (meios e plataformas digitais), uma vez que a prática da reconfiguração/reciclagem é a própria conseqüência de um ambiente saturado de informações, criado inicialmente pelos meios tradicionais de massa (jornal, rádio, cinema, TV e vídeo).

Ao que se chama “cultura de massa”, os autores Adorno e Morin apontam o processo industrial como o início desta cultura totalmente voltada à produção e ao consumo. Ambos notificam que, por causa do fenômeno industrial, tudo passou a ser produzido em série, inclusive as informações. A partir de então, os meios de comunicação passaram a ser de massa, dando vazão a uma nova cultura, agora baseada na produção em série e no consumo. Estes novos meios começaram então a produzir informações formatadas com o intuito de doutrinar a sociedade já massificada, para o consumo dos produtos e serviços. Como conseqüência, a sociedade passou a conviver com um meio saturado de informação, a esta altura, direta ou indiretamente ligado ao processo de industrialização (doutrina do capital).

Neste ponto, já se podia perceber o bombardeio de informação como uma intromissão às faculdades psíquicas dos indivíduos da sociedade. Uma entrada sorrateira e ao mesmo tempo geradora de uma consciência duvidosa, sob o aspecto moral, assim como é descrito. A crítica à industrialização, aos meios de comunicação de massa, à sociedade de massa, já antevia o que aconteceu nestes anos e o que acontece agora; não como um simples presságio, mas por puras e simples razões matemáticas, como numa regra de três.

Desde então, a sociedade passou a se chamar ‘sociedade do espetáculo’ (Debord), pois tudo começou a girar em torno da imagem, estabelecida como centro para todas as coisas, onde o “real” se dá pelas lentes dos meios midiáticos, em que absolutamente nada é mais crível do que aquilo que eles mostram. Neste contexto, o meio que se tornou notável foi a televisão, pois desde o seu surgimento ela passou a ditar regras a sociedade, relacionadas aos aspectos sociais e morais. Os indivíduos passaram a se enxergar somente através da tela e a criar necessidades de consumo por meio de conceitos impostos. Neste ambiente, a sociedade não está embasada numa ideologia, mas numa ‘videologia’, como diz Bucci (2004), onde tudo converge para a imagem, para a visibilidade e para a ‘composição de sentidos no plano do olhar’. Desde já se pode atestar a “era do audiovisual”, um espaço gerado gradativamente pelos meios de comunicação nas atividades externas e internas do indivíduo na sociedade.

Desta forma, surge a cultura remix, que atua através da saturação das informações dos meios de comunicação desde a Industrialização, pois esta foi gerando aos poucos nos indivíduos uma necessidade de consumo e passou a ser atestada, através dos meios de comunicação de massa e através de conceitos produzidos, principalmente, pela publicidade.

O exercício pleno das reconfigurações surgiu no momento de saturação quase máxima dos conteúdos. Estes se perderam em toda sua linearidade e se transformaram em formatos nunca antes vistos (incluindo todos os aspectos da vida social das pessoas). Os principais meios se desviaram de suas funções originais pela troca de se adaptarem a estes novos conteúdos, o que fez com que eles se agregassem cada vez mais na tentativa de satisfazer as necessidades fugazes e com bases tecnológicas da sociedade atual. Praticamente, todos, desde os mais tradicionais aos mais avançados, se converteram as práticas da remixabilidade fazendo jus ao aglomerado informacional. Desta forma, o conceito de remix se apresenta a partir do seu surgimento nos meios de comunicação de massa, o atestando agora fortemente na Cibercultura, através de seu crescimento não apenas junto aos meios, mas também à sociedade que se desenvolveu através destes. A questão implica a remodelagem gradativa dos conteúdos dos meios se adaptando aos avanços tecnológicos. Através deste conglomerado informacional do fenômeno remix, começa a tomar forma, uma vez que as informações e conteúdos passaram a ser recicladas e transformadas em novos formatos. Mensagens “verdadeiras ou não” disseminadas no Facebook, vídeos originais ou amadores do You Tube e outros desdobramentos na internet exemplificam bem todos estes fenômenos tecnológicos atuais.

Os meios tradicionais de massa abriram o caminho para a cultura da reciclagem, onde nada mais se apresenta como novo ou original, mas apenas como recortes, emendas e reconfigurações de dados soltos. Desta forma, os próprios meios tradicionais, agora apresentados em novos formatos tecnológicos, já nascem com um discurso diferente, de acordo com esta nova cultura, que eles mesmos, em sua forma inicial, construíram. Este é o contexto em que a Cibercultura nasceu, por isso a sua base pode ser considerada o remix. Estas novas práticas midiáticas alteraram a tríade base emissor>canal,mensagem>receptor, e a desordenaram de tal forma, que se inverteram os papéis de suas partes. O emissor não sabe mais se a sua função é a mesma; o canal não é mais um mero instrumento distribuidor, mas possui uma função ativa; a mensagem, que antes era tão direcionada e intencionada, agora se volta contra ela mesma; o receptor, que permaneceu tanto tempo apenas passivo ante os conteúdos a ele apresentados, passa agora a ter poder sobre o emissor, o canal e, principalmente, sobre a mensagem, pois se tornou seu próprio criador.

O exercício dos meios não está agora, pelo menos explicitamente, voltada ao puro consumo capitalista como antes, mas sim, para o preenchimento constante da necessidade de fugacidade e transitoriedade em que se encontra a sociedade atual. Tudo hoje tem de ser prático, fácil, rápido e descartável, principalmente, os conteúdos informativos, que por tanto tempo “aprisionaram” os indivíduos em longos discursos televisivos e publicitários, voltados a padrões e conceitos estabelecidos para se viver.

Uma vez que estes conceitos foram incutidos aos poucos, se foi criando uma outra mídia: o próprio indivíduo midiatizado; e agora, frente a novas representações na Cibercultura, que ele, melhor que ninguém, sabe lidar precisamente. Será?


Yara Luna

Mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (2008). Especialista em Comunicação Publicitária (2005) e graduada em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda (2004). Pesquisadora e docente universitária.




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