Os caminhoneiros conseguiram equalizar uma equação que não fechava nunca - por Ana Maria Bernardelli

Os caminhoneiros conseguiram equalizar uma equação que não fechava nunca: O impacto como os desmandos do governo afetavam, de maneira desigual, as classes sociais deste país.

Os ricos, e os não tão ricos, pareciam estar imunes, os pobres, e os não tão pobres sofriam um pouco mais, mas ainda assim, todos permaneciam à mercê de qualquer decreto vindo de cima.

Nunca houve nada que pudesse salvar a sociedade brasileira do conformismo apático, alimentado por festivais e carnavais, pelo pão e pelo circo.

Pela primeira vez, desde que me entendo como cidadã, uma manifestação civil, em resposta à arbitrariedade do governo, atinge com igual intensidade todos os brasileiros, todas as classes sociais, todas as regiões, todas as categorias, todas as gentes, nivelando todos ao mesmo patamar de indigência, de maneira que ninguém escapa das consequências dessa manifestação civil.

O estopim, já se sabe, foi o preço do diesel. O resultado já se vê: sem o transporte de carga o Brasil não anda, o Brasil não trabalha, o Brasil não come, o Brasil não se cura, o Brasil não tem segurança, o Brasil não estuda, o Brasil não vive.

Fico imaginando que a pauta dessa reivindicação poderia se estender para exterminar o desgoverno dessa era. Em boa hora eu aplaudiria que a greve se estendesse indefinidamente, até que todos os privilégios imorais da classe política fossem cancelados.

Até que essa gentalha, que se autoproclama acima da lei, fosse nivelada a patamares aceitáveis de atribuições e benefícios como os que são concedidos a chefes de estado, e estadistas de primeiro mundo.

Até que o chefe de governo dispensasse o seu chefe de cozinha,

e pedisse à sua mulher para administrar a empresa familiar, como fazem as mulheres de todos os trabalhadores deste país.

Até que os ex-presidentes tivessem seus cartões corporativos e sua imensa carga de benesses eliminada.

Até que tudo que é excesso pago pelo bolso do contribuinte fosse cortado.

Afinal, se alguém esperava que os militares nos salvassem, esse alguém se equivocou.

Quem pode nos salvar são os caminhoneiros!

Um brinde a eles!