Olhe em volta - por Ana Maria Ribas Bernardelli - Escritora

Olhe em volta e observe o seu acervo pessoal: quantas coisas você adquiriu com a vida!

Coisas não se compram com dinheiro, mas com horas de vida que foram gastas no seu trabalho, ou no trabalho do seu marido, da sua esposa, do seu pai, ou da sua mãe.

Coisas foram pagas com dinheiro, mas para ganhar dinheiro alguém gastou horas de vida, meses de vida, anos de vida.

Por isso, olhe atentamente o que você comprou com a sua vida, ou com a vida dos outros.

Não precisa fazer um inventário dos bens imóveis, faça apenas o inventário dos bens móveis: carros, roupas, sapatos, bolsas, cintos, carteiras, pranchas de surf, tênis de marca, bolas, maquiagens, almofadas, colchas, quadros, tapetes, cortinas, bijuterias, joias, livros, aparelhos eletrônicos, e toda a paraphernalia que te cerca.

É muita quinquilharia não é verdade? Coisas que ficaram velhas muito rapidamente, e que foram substituídas, muitas vezes, com poucas horas de uso.

Pois é: esse é o nosso patrimônio irresponsável, fruto da exposição demasiada à publicidade e propaganda que grassa no mundo.

Ultimamente, um outro perigo nos espreita, além dos bens de consumo: o serviço de consumo.

A sociedade promete coisas que não pode cumprir, principalmente na área da saúde e da beleza.

E as pessoas compram, e vão embora insatisfeitas com o dinheiro jogado fora. Mas ninguém denuncia porque o prestador de serviços sempre poderá alegar que o resultado obtido varia de cliente para cliente.

Pois é! Um dia as coisas que a gente compra com horas da nossa vida, ou da vida dos outros, ficarão por aqui, mas as horas da nossa vida, ou da vida dos outros, chegarão ao final.

A única forma de escaparmos do consumismo desenfreado e inconsciente é fazendo a equivalência entre coisas e horas, não medindo mais o preço do que adquirimos em moeda corrente, mas em horas de vida: esse carro me custou X horas de vida, já esse sapato me custou X horas de vida.

Nada do que possuímos está isento de horas de vida. E as coisas ficam, mas a vida acaba.