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Colunistas de Cruzeiro do Oeste e Região

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Não espere até amanhã para dizer que ama - por Márcia Errera - Professora

Homenagem de Márcia Errera a seu pai, Noel Errera



O primeiro amor a gente nunca esquece! Esta é uma frase bem conhecida e se é verdadeira ou não, há com certeza diversas opiniões. Eu só sei que o meu primeiro amor, ainda não esqueci e sinceramente nunca vou esquecer!!!

Este amor passou por várias provas, etapas, frustrações, decepções, alegrias e êxtase que todo amor de verdade e que realmente vale a pena, deve passar.

Primeiramente veio a paixão...ah a paixão, tudo era lindo, perfeito! Ele era meu grande herói. E como todo bom herói, não tinha defeitos, resolvia tudo, era forte, inabalável, protetor.

Essa paixão durou um tempo. Foi aí que tive minha primeira decepção... bom pelo menos a primeira que lembro. Meu herói não era tão inabalável assim... ele tinha defeitos. Meu Deus, ele me magoou e como magoou, não foi uma nem duas mas várias e várias vezes. Ele disse não aos meus desejos, sem explicação, simples assim! Não era não e pronto!

Os anos se passaram, os “nãos” aumentaram, as cobranças vieram e eu fiquei meio perdida a tantos acontecimentos.

Por que mudou tanto assim? Por que não me beijava como antes? Não me pegava no colo com tanta frequência, não me dizia eu te amo?

Eu fiquei com medo e hoje sei que ele também estava. Afinal, a sua menina cresceu! E ela, tudo que queria, era liberdade, pois na concepção dela, ele não sabia de nada! Era chato, ultrapassado, bravo, incompreensivo, entre outras coisas. Só sabia dizer não, ali você não vai, com essa pessoa não te quero ver, você tem que estudar etc, etc... Mal sabia ela que essa foi a forma que ele encontrou de defendê-la ... defender do mundo e defender de si mesma ...dos rompantes da adolescência!!!

Ah pai ...como te agradeço por isso!!!

Como te agradeço, pelos “não”, pelas palavras, poucas é verdade, mas muitas vezes ditas de forma forte, que magoava, que me fazia chorar, sentir raiva. Mas tão preciosas para a minha formação enquanto pessoa, enquanto mulher, enquanto cristã.

Enfim, descobri que o herói descrito acima, era na verdade, simplesmente um homem normal, um homem com falhas, com acertos. Um homem com suas peculiaridades marcantes: cara feia, poucas palavras, mas com um coração enorme, uma verdadeira “manteiga derretida”.

Meu pai, meu primeiro amor, é um homem que encontro no olhar o que a boca não diz... mas que o seu coração transborda.

Ah e como esse olhar me diz tanta coisa! Diz-me: eu te amo ...pode contar comigo ...preciso de você ...você esta errada ...você esta certa ...estou triste...estou angustiado...estou feliz, sem ao menos proferir sequer uma palavra.

Não recebi lindas palavras quando completei 15 anos, apenas um abraço. Eu disse, apenas??? Por que será que ainda me lembro até hoje do aconchego do abraço??!!!

Quando me casei e ele me viu vestida de noiva, eu não recebi um elogio, tipo, você está linda minha filha! Mas vi os seus olhos vermelhos, brilhando, lacrimejando. Senti suas mãos frias e trêmulas e isso bastou para me sentir o ser humano mais especial e amado do mundo naquele instante!

Quando meu filho nasceu, antes de entrar para a cirurgia, deitada na maca, pude contemplar seus olhos de aflição, de alegria, de medo e uma mensagem: eu estou aqui e estarei aqui quando voltar. Isso me encheu de forças, naquele momento tão especial mas que provoca um certo medo.

Estabelecemos assim um código, sem prever, sem calcular, sem ao menos falar. Apenas respeitando a limitação um do outro...a personalidade de cada um ...um falante ...outro calado e ambos felizes e abençoados por se pertencerem.

Talvez nem fosse preciso dizer, os inúmeros sacrifícios que ele fez ao longo da sua vida para que eu e meu irmão pudéssemos ter a melhor educação, uma profissão, enfim, nunca deixando faltar nada, materialmente falando, acontecesse o que acontecesse. Mas quero contar uma lembrança, um episódio tão simples que talvez para quem esteja lendo não tenha significado algum, mas tem um valor imensurável para mim.

Um belo dia acordei com desejo de comer pizza... eu deveria ter uns 8 anos e meu irmão 6. Mas naquela época não era tão comum assim, não se encontrava pizza em qualquer esquina e eu não queria a que minha mãe fazia. Queria a pizza do Restaurante Colega. Este referido restaurante ficava na rodovia e meu pai não tinha carro. Pode parecer bobagem hoje, mas era muito complicado para a época. Ele simplesmente saiu, sem falar nada e quando voltou no fim da tarde, chegou com a pizza.

Seu olhar era triunfante, era tipo assim: Consegui, atendi a minha filha, fiz meu papel de pai!!! E para mim, na inocência infantil foi tipo assim: Meu herói chegou e me salvou!!!

Embora os anos tenham passado, esse sentimento parece permear as minhas ações. Sou independente ...construí a minha família ...tenho meus projetos...cometi erros... mas eu sei que ainda posso encontrar e contar com aquele olhar... eu ainda encontro vestígios do meu herói ...do meu primeiro amor!!! Isso me conforta... me acalenta ...me faz feliz!!!



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