Embora houvesse muitos sapos nesse reino, aquele era um sapo especial.
Por causa dele, a ordem e a estabilidade do reino vinha sofrendo grandes sobressaltos.
Tudo o que se sabia até então, no mundo organizado, passou a não se saber mais.
O sapo - aquele- era de tal ordem poderoso, que mesmo confinado a uma lagoazinha solitária, seu coaxar abalava os rincões mais distantes da terra.
A sapaiada comum mortal a tudo assistia, sem nada entender.
-Mas então, essas autoridades que os sapos temiam, não mandavam nada?! Nadica de nada?!
Vez ou outra, um sapo togado tentava restabelecer a ordem do ponto de vista conhecido,
mas logo três sapos togados se levantavam, e restabeleciam a ordem do ponto de vista desconhecido.
De forma que, por absoluta falta de entendimento, criou-se dois reinos dentro de um único território.
E quanto mais a sapaiada contra -ou a favor -a cada um dos reinos, se posicionava,
mais a desordem e a bagunça se instalava.
Por conta dessa divisão que em breve colocaria um contra dois, e dois contra três, e três contra quatro, até que os numerais fossem infinitos, convocou-se um plebiscito.
A sapaiada dissidente, de saco cheio com a bagunça institucionalizada pelo poder do sapo poderoso,
decidiu apostar todas as fichas em um comandante latino cujo passo lembrava uma mancha e uma marcha.
O cordão foi engrossando a cada dia, e em pouco tempo ganhou status de parada militar.
O comandante latino, coitado, alçado à posição de salvador da pátria, vivia no susto.
Seu discurso não convencia pelo teor, mas pelo improviso da hora trágica.
Até a sua voz, que parecia um fiapo, se comparada ao coaxar do sapo poderoso, agradava aos dissidentes,
profundamente desagradados com a voz do sapo poderoso e das companheiras sapas poderosas.
Essas últimas, causavam arrepios indiscriminados no brejo todo.
Ninguém aguentava mais ouvir aquelas vozes.
Up to date:
Infelizmente ainda não se sabe o que vai acontecer com o reino da Sapolândia.
Provavelmente, no início de outubro, cada sapinho encontrará o seu destino na lagoa turva,
e continuará fazendo o que sempre fez:
sustentar os vencedores com o produto do seu trabalho,
E pagar impostos exorbitantes sobre todos os seus bens e sobre tudo o que produz.
Quem nasceu pra sapinho não sai da lagoa.
E nada é tão ruim que não possa ficar pior.
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