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Colunistas de Cruzeiro do Oeste e Região

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Mataram minha cachorra - por Mari Marques - Escritora


A morte não deveria existir. Nenhuma morte. Nem da galinha, da vaca, dos gatos, dos cães e dos passarinhos. Nem a natural, nem por doença longa, curta, e muito menos a provocada.

Provocaram a morte de minha cadela Mila, hoje pela manhã, com um veneno tão potente que não deu tempo nem de ser medicada. Essa não é a primeira vez que perco um cão que amo. Que fiz o parto e cuidei como se fosse um filho.

Bem cedinho, Mila vendia saúde fazendo suas peraltices, e me impedindo de varrer a casa. E sorria feliz, como é feliz todo ser vivente que é amado. Me acompanhar na faxina era sua diversão predileta. Talvez pensasse que estivesse me ajudando participando do que eu fazia. Mas me ajudava como amiga que cuida avisando quando um conhecido, ou estranho se aproximava do portão. Pelo ladrar eu já reconhecia os avisos que com o tempo ela aprendeu a usar para se comunicar comigo. Antes das nove horas, fez todas suas peraltices, ora me atrapalhando, ora me fazendo rir... e, uma hora depois partia.Envenenada.

Como estou? Com a tristeza, aquela sem esperança, que só a morte nos traz. E, enquanto choro, e passo pela dor atroz, busco forças para perdoar, e não sentir raiva de quem foi capaz de fazer isso. Em alguns casos - e esse é um- Deus deveria nos permitir sentir toda a raiva do mundo, e a negação do perdão. Por que devo perdoar monstros, que se passam por humanos? Por que devo perdoar o matador de Mila e o provocador de minhas lágrimas? Essa espécie de maldade, onde a mão é rápida para ceifar vidas, faz-me pensar que no tempo de Jesus, a lei era fortemente estabelecida. Cortavam-se os dedos dos ladrões, apedrejavam prostitutas, e enforcavam assassinos.

Vivemos a era da maldade crua e escancarada, e lutamos todos os dias para desviar das setas da crueldade. Ainda assim, ela nos atinge...Mesmo estando em nosso quintal, cuidando de nossas vidas, num dia que tinha tudo para ser normal.

Só uma alma envenenada é capaz de acordar e planejar, friamente, a morte de alguém ou de um bichinho, que nada lhe fez. Mila era barulhenta, sentia-se responsável pela casa, mas nunca mordeu ninguém.

E aqui estou eu, me debatendo - mais uma vez - entre a aceitação da perda irrecuperável, e a raiva inevitável. E devo perdoar! Ah, Deus como é difícil arrancar esse perdão, mesmo sabendo que a justiça Te pertence e será feita. Ao menos hoje, vou chorar e sentir raiva...chorar e sentir raiva...até que Tu me anestesie.

E depois de algum tempo, já sei o que irei sentir: uma imensa saudade de minha amiga Mila, e uma razoável pena de quem lhe tirou a vida. Esse matador que segue respirando o mesmo ar que respiro, e chama a isso de vida, quando na verdade já está morto, e apenas esqueceu de se enterrar.


Mari Marques

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