Eu percebo que chegamos na soleira de uma porta- e por medo ou por desesperança – não entramos para saber o que realmente tem do outro lado. Em cada porta, tem um nome gravado , o nosso nome. Atravessar a soleira da porta é o único jeito que temos de nos achar, de nos conhecer e de ser inserido no mundo real.
Às vezes , ficamos na soleira imaginando o que há lá dentro e antes de ver, sentimos tudo como se fosse real. Respiração ofegante, angústia, pensamentos e hipóteses.
A harmonia dessa entrada tão pressentida, é a coragem e a curiosidade em conhecer o novo, explorar o desconhecido e principalmente se dar ao luxo de dar o melhor de si , havendo, pois, um encontro entre você e outra de você.
Uma escolha de cada vez deve ser feita. E haverá caminhos tortuosos, decepcionantes e encantadores. Cada um deles deve ser desviado, no momento certo. Aceitar que o caminho mostrara muitas contradições, é sinal de sabedoria e humildade.
No entanto, projetamos o curso natural da vida: começo, meio e fim. Mas não será dessa maneira que a trajetória da vida acontece.
Tantos acontecimentos nos pegam de surpresa, que nos dá a certeza que nessa vida não há possibilidade de fazer planos, pois somos seres tão vulneráveis e sem poder sobre nossa própria vida, que um simples plano pode ser abreviado ou mesmo nem acontecer como havíamos sonhado ou projetado.
Assim, a surpresa é certamente uma das experiências que iremos viver além da porta.
Sentimo-nos, muitas vezes, agraciados pelo poder e nos contagiamos de tal forma, que experimentamos a sensação de alegria imensa, prazer total e que tudo podemos, tudo é possível. Um dia, sentimo-nos mal no meio da madrugada, estamos sozinhos ou não, experimentamos uma fragilidade tão grande, tão angustiante, tão certeira que em segundos todo o poder que vivemos, exatamente tudo perde o sentido, pois o que mais queremos e precisamos naquele momento é uma mão estendida, um colo, um socorro. Logo, a arrogância é, sem dúvida outra experiência que iremos viver além da porta entreaberta.
Ao longo de nossa vida, deparamo-nos com toda sorte de pessoas e, algumas procuramos ajudar por acreditarmos que trata-se de alguém que não teve oportunidade e assim, investimos e garantimos a evolução da mesma. Parafraseando Goethe, “ Jamais conheci homem de valor que fosse ingrato” . Haverá sim, pessoas ingratas em nossa trajetória, aquelas que não reconhecem que foram beneficiadas com orientação e ajuda quando precisou. Aquelas pessoas que vivem “ seu mundo” buscando seus próprios interesses. E comum que os ingratos cerquem-se de pessoas que elevem seu valor, ignorando àquelas que realmente importa-se com elas. Ingratidão, e sem dúvida, outra experiência que iremos encontrar na porta que escolheremos.
Encontraremos a desonestidade, a honestidade, a lealdade, a deslealdade, a raiva, o afeto, as brigas, os encontros e desencontros, mas vou terminar em uma das experiências mais fantásticas que o ser humano pode viver em todas as escolhas que fizer, ou seja, em portas semiabertas.
É o amor motivo pelo qual pautamos nossa vida inteira. Muitos negam, outros nem tanto, e ainda há os que abertamente são abertos para esse sentimento. De qualquer modo, o amor está em nós. O amor próprio, o amor de mãe, o amor de pai, de tia, de avós, de irmãos. Não importa, somos amor.
Alberto Caeiro, dizia que “o amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos. Porque já não posso andar só." Com amor, seja ele qual for, sentimo-nos como montanhas altas, árvores frondosas, fortes e indestrutíveis. Porque o amor simplesmente enobrece, fortalece, ao mesmo tempo, frágil, inesperado, eterno alguns tipos de amor, outros não. Mas o que move o mundo e as pessoas é o amor.
Então, abrindo e fechando portas, em cada ciclo da vida, terminando ou recomeçando, não importa qual momento da nossa vida estamos. O que importa mesmo não é fechar ou abrir portas, entrar ou não entrar, ficar ou sair, e sim viver intensamente as coisas boas e ruins que acontecem em uma vida pautada no amor.
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