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Colunistas de Cruzeiro do Oeste e Região

Foto do escritorTG Treinamentos

Ele estava lá quando aportamos - por Elaine Rufato Delgado - Colégio Alfa


Cumprimentou o rapaz que dirigia a lancha, já o conhecia.

Olhou-me com ar de cumprimento respeitoso e se sorriu com os olhos.

Estava sentado no barco, esperando.

Saímos e quando voltamos ele estava lá.

Fiquei esperando o peixe e ele sorriu dessa vez.

Calculei uns 60 anos, depois ele mesmo disse-me que tinha 78 anos.

Contou-me que vivia ali, no estado de Rondônia, toda a sua vida.

Perguntei-lhe algumas coisas que me interessava e ele respondeu assim (adaptado a sua fala):

- Senhora, a minha vida inteira fui da terra e hoje continuo sendo, pescando e vivendo do que gosto de fazer. A vida para mim é muito simples, temos tudo que precisamos. EU, por exemplo, gosto de ver a paisagem e cada dia ela se mostra diferente se olharmos atentamente. Não estudei, talvez tendo as letras e as leituras na minha cabeça eu seria diferente, mas não mais feliz ou mais infeliz. Só diferente.

Acredito que na vida tudo tem um propósito, na minha teve. Também nunca me preocupei muito com a vida dos outros, sempre aceitei as pessoas do jeito que queriam. Criei meus filhos, ensinando que deviam ser honestos e trabalhadores. Todos cresceram, nem todos seguiram meus conselhos.

Perguntei-lhe:

- O senhor é feliz? Ele disse bem assim:

- Sim Senhora. Nunca cobicei o que era de outras pessoas. Nunca fiz mal para os outros, acho que não, né? Esse menino aí – apontou o barqueiro - dei banho nele, ele saiu muito comigo por esse rio afora. Conheço todo mundo por aqui, tenho minha casa, meu sustento, minha companheira e meus filhos estão por aí. Tenho saúde. Sou feliz, porque tenho tudo do que preciso.” O brilho no olhar dele era sincero e revelador, ao final recompensou-me com um sorriso branco de orelha a orelha.

Pois bem, a imagem daquele senhor de 78 anos sentado naquele barco esperando pacientemente pelo gelo (fiquei sabendo depois), para ir pescar, está na minha memória até agora e espero que permaneça.

Era a imagem da própria felicidade. Simples. Descomplicada. Genuína.

Aquele senhor me confirmou o que sempre pensei:

- Não há como todas as pessoas serem felizes todos juntos. Todos são felizes quando tem uma vida social intensa, quando viajam, quando são notícia, entre outros exemplos. Sempre acreditei que cada um é feliz de um jeito. Pessoas são felizes sozinhas, outras juntas. Pessoas são felizes gordas, outras magras, outras nem tanto. Pessoas são felizes quando estão com a família, outras quando não estão e ainda outras quando estão com algumas outras pessoas.

Dessa forma, não há como padronizar a felicidade como algo que todos sentem da mesma forma.

Então, seria tão maravilhoso se todos nós aceitássemos o modo de ser feliz de cada um, sem comparação e sem padrão ou compartimentos onde cada um tem uma janelinha tal e qual do seu colega e segue exatamente o que o outro faz e pensa. Seria tão bom.

Aquele senhor que conversou comigo e nem sabemos o nome um do outro foi uma das pessoas que mais me impressionou e ensinou-me nos últimos tempos.

A simplicidade dele me encantou e me tocou. Aquele olhar e o sorriso final me contou que esse ser humano sentado lá no Rio Guaporé, quase divisa com a Bolívia, sabe muito do que é a vida, sem queixas, só gratidão e prazer.

Vive sem retoques, sem make, sem disfarces e sem máscaras.

Que lindo isso, chegar até aqui e conhecer e ouvir um depoimento desse.

Ao final, conclui:

- “Até logo, senhora. Deus a acompanhe e esteja certa, Ele estará aqui comigo também”

Simples assim.


Professora Elaine Regina Rufato Delgado




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