Desde os tempos antigos, o ser humano tem procurado seu bem-estar, quer seja por um lugar acolhedor, protegido, seguro, com água e alimentos ao redor, como também pelo prazer de estar em um lugar de satisfação pessoal, que no fim de tudo, se resume no que escrevi anteriormente.
Necessidades básicas de sobrevivência supridas, que é o que todos procuramos, é o objetivo comum. Não há como negar que há vários fatores outros que influenciam alguém a morar e viver em determinado lugar. Por exemplo, talvez você pense como eu que, morar em uma grande cidade onde para se trabalhar é necessário acordar 2 a 3 horas antes do início da jornada de trabalho, enfrentar ruas, vielas, esquinas perigosas, escuridão, lotações abarrotadas de pessoas, muitas delas doentes, tossindo ou espirrando em você, assédios de todos os tipos, frotteurismos, passar toda a jornada sofrida de trabalho e no final do dia, enfrentar tudo novamente, não seja algo que realmente valha a pena. Afinal de contas, o que leva alguém a se submeter a algo desse tipo?
Algumas respostas talvez possam justificar este calvário: falta de oportunidades de trabalho em outros locais (muitos nordestinos enfrentam algo parecido); o fato de se ter um lugar para morar ainda que simples, mas seu; o apego emocional a familiares próximos, não querer deixar pai e/ou mãe sozinhos; a sensação de cuidado presencial ainda que não seja necessariamente essencial; e, talvez, aquele sentimento masoquista que alguém possa ter do tipo – moro em um lugar horrível, inseguro, transporte péssimo e desumano, e muito mais, mas amo esse lugar!! Quantos colegas paulistanos pensam desta forma.
Por muitos anos vivi em um lugar onde a violência urbana era exceção e não a regra, onde a mobilidade urbana era respeitada, onde o planejamento urbano era uma realidade prática. Trabalho em abundância, trânsito suportável. As coisas mudam. Pessoas mudam. Cidades mudam. Nos últimos anos minha cidade de origem tornou-se o oposto do enunciado anterior. Não é o caos urbano, no entanto, deixou de ser, para mim, o melhor lugar para continuar a viver.
Certas decisões na vida são muito difíceis de serem tomadas, todavia, são necessárias em algum momento. Sair de uma zona de conforto, de aconchego, de conveniências relacionadas a certas prioridades da vida, ainda que não as maiores prioridades da vida, faz com que a vida se torne mais viva dentro de nós. Muitas pessoas hoje vivem por anos a fio, sem no entanto, acrescentar vida aos anos que vivem. Talvez porque estão acomodadas com o que têm, com os relacionamentos que possuem, com as responsabilidades que assumiram, sem talvez estarem completamente satisfeitas com isso.
Há aproximadamente quatro anos, minha esposa e eu, junto com nosso filho pequeno, decidimos por arriscar (palavra forte quando se trata de vida, família, trabalho, relacionamentos) a uma nova perspectiva de viver. Possuía trabalho reconhecido e digno, família próxima, relacionamentos profundos de amizade. Não foi uma decisão fácil, porém, fizemos com muita determinação e ousadia. Achei um lugar de pessoas boas, simples porém honestas; cultas, porém humildes; bem sucedidas financeiramente, porém agradáveis, não soberbas. Faço meus passeios de bicicleta com meu filho nos finais de semana ou no final do dia, sem o alto risco de ser assaltado ou de enfrentar um trânsito violento. Posso cuidar de pessoas sem ter que passar 2 horas no trânsito; bastam 5 minutos e estou no local do meu trabalho. Meu filho e eu voltamos para casa da escola caminhando – não há necessidade de usar automóvel – distâncias muito pequenas. Somos felizes aqui. Seria injusto dizer que éramos infelizes onde morávamos, mas sou sincero em dizer que somos mais felizes aqui.
Minha profissão me faz conhecer um pouco mais das pessoas do que relacionamentos triviais do dia a dia, suas carências e necessidades. Ajudá-las a suportar, enfrentar, solucionar suas dificuldades atuais, traz uma sensação de bem-estar inigualável, inexplicável. Um sentimento de utilidade, de realização profissional e pessoal, que beira à plenitude. Citando Saint-Exupéry, somos responsáveis pelo que cativamos. Desta forma, faremos então, um acordo de cavalheiros – farei o possível para cativá-los ainda mais (ainda que não consiga a todos), mesmo que talvez, por isso, me torne ainda mais responsável por vocês; e vocês, farão o possível para me manter cativado, ainda que por isso, vocês se tornem ainda mais responsáveis por mim, como têm feito.
Muito obrigado, Cruzeirodoestanos.
Paz e Prosperidade a todos.
Dr. Josué C. Pereira, Médico em Cruzeiro do Oeste.
Comments