Me vem uma pergunta, obviamente, sem resposta. Será que Marielle sabia que ela era tudo o que dizem a seu respeito, depois de morta?
Se sabia, deve ter morrido com o sentimento de não ter sido honrada e aproveitada na política nacional como deveria. De não ter sido protegida como deveria. De não ter sido divulgada como expoente feminino na luta pelas minorias deste país.
Não é estranho que um país tão necessitado de lideranças sadias, nunca chegasse a ter notícias da existência de Marielle?
A mídia nacional que sempre deu ênfase a tudo que Fernandinho Beira Mar fez no Rio de Janeiro nunca divulgou o que Marielle fazia.
Quem de nós fora do eixo carioca, sequer conhecíamos o nome Marielle?
Quem de nós deixa de conhecê-lo agora?
Quantos brasileiros foram apresentados a ela depois da sua morte?
Por que só o fazem agora que Marielle é morta?
Uma provável resposta é esta:
O brasileiro precisa de mártires, de causas perdidas, de leite derramado, de desagravos, de atos e ofícios póstumos, mas não tem o histórico dever de honrar as suas lideranças enquanto elas vivem e pisam na dura terra deste impossível chão.
Alguém se lembra de Chico Mendes? Alguém se lembra da Missionaria Dorothy Stang? Alguém se lembra de Gonzalo Hernandes?
Quanto de mídia foi oferecido para divulgar, e melhorar, e proteger, e fortalecer o trabalho e a vida dessas pessoas antes da morte?
Eu vou dizer uma coisa: quando eu morrer, não venham dizer nada a meu respeito.
Nada que eu não saiba enquanto estou viva.
Vou ficar muito braba se resolverem me entregar uma faixa de qualquer coisa depois de morta.
Marielle não precisa mais disso.
O brasileiro é que precisa tomar uma atitude e um pouco mais de vergonha na cara.
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